segunda-feira, 16 de maio de 2011

MAGMA - BATAVO 2/2 (por Rony Bellinho)

cont.

Se pudéssemos reconstituir aqueles que firmaram esses "étimos" espirituais (aqui evocando Kandinski) em relação unicamente aos amarelos, poderíamos, ainda que com certo rigor no zelo ou cuidadosa alusividade, citar nomes de uma portentosa dinastia da mesma Holanda de Kooning; nomes estes que utilizaram esta cor (por certo com variantes à escala de potência, mas implicantes como indício real, não menos palpável, como uma potência comum e imprescindível da paleta dinástica dos mestres holandeses. Esta expoência atinge uma máxima determinante de ser, algo muito próximo àquilo escrito por Haroldo de Campos
"Desse excesso, dessa demasia
instada e instante
nasce a informação original
o sol (é claro) ensolara-se
de sol"
Seria a cor onde se esmalta em uma faixa do pano - turbante- tão serviçal de Vermeer; rebaixa-se em lento óbito opaco do funeral do ouro de Rembrandt; empasta-se alto e possuìdo, veias vivas do tubo de Van Gogh; quintavenida-se á ordem de Mondrian; para resultar em De Kooning como um frêmito "esfaquiar", assim declarativo como um protesto de lavas.

Vã tentativa será, assim afirmamos, em qualquer tempo, obter a marca precisa desta extensão alcançada, ou mesmo uma medição analítica-ensaística que venha pairar sobre a obra desse impressionante (desculpem-nos qualquer redundância) artista.

Creio que apenas poderíamos referirmo-nos (fiéis às aparições de suas obras), tocar  indiciais e retinianas referências que nos assaltam de imediato assombro: sua apavorante plasticidade de ataque face à intenção de consumar, por fim, uma síntese do apogeu pictórico do furor..
A primeira leitura que se faça de seu trabalho, encontraremos certas localidades a des-cicatrizarem-se; que se coagularam abertas e revoltas.
Ou ainda mais precisamente e melhor àquilo que G.C. Argan ressalta:

"(...) O gesto expresionista de pintar, colocar as tintas, atirá-las e manipulá-las na tela é, para De Kooning, um gesto explosivo, que desintegra a realidade. Recuperam-se, de fato, os fragmentos de figuração no magma devastado de sua pintura decididamente "informal": como no fundo lodoso de um poço descobre-se, com um arrepio de nojo, a carcaça que infectou suas águas."


Rony Bellinho

sexta-feira, 13 de maio de 2011

MAGMA - BATAVO 1/2 (por Rony Bellinho)

Epígrafe: "L' arte è universale e dirompante
è como em colpo di pistola che squarcia il buio e spezza il silenzio"
(Tano Festa)

O contágio inicial com a obra de Willem de Kooning, lembro, foi por intermédio de algum registro esparso daquilo que mais notoriamente didático se possa obter; rápido flash históricamente pedagógico: obra-movimento-data.

Seria, no caso, algo que apenas documentaria, ali, sua época mais "vitalista", corresponde à extensa fase-WOMAN (a mais identificante), ou a simbólica obra EXCAVATION, ambas representando sua "assinatura-autoria" mais instantânea.

Foi quando de minha visita ao Berinjela (sebo de renome no RJ), encontrei - e tão logo comprei - uma espécie de coletânea síntese, edição norte-americana, simples, mas de feitio editorial com extremo rigor.

Tal publicação apresentava um Kooning paripasso, do momento iniciante, com fortes componentes de resoluções acadêmicas, interpassando também por etapas que o artista ultrapassava, a desenvolver sua própria iconografia, até chegar em suas obras de recorte mais consagrador.

Aqueles fatores que, em princípio, se indentificavam com a minha ideia de uma pintura menos contemplativa, idealizada a partir do elemento mais demolidor em Picasso, o transtorno audacioso da forma, bem como aquilo que o expressionismo alemão distorcia à figuração, estariam, a meu ver, verticalizados à proposta pictórica de Kooning. Isto, portanto, atuaria, sobremaneira, ao meu desejo de a partir de então, estudá-lo, ratificando a ideia de ultrapassagem ou melhor, aquilo que E. Panofsky aponta como: "a camada primária de sentidos". Ratificavam-se também a admiração e o convívio, intensificados ao longo deste percurso de aprofundamento quanto à sua obra. Ciente destas forças atuando combinadas, já devidamente ciente de sua estatura biográfica (ante ao relevo de auge que sua figura proporciona no itinerário da arte produzida nos EUA a partir da década de 40) , já podia admiti-lo como um artista-sinalizador.
Tornar-se-ia então (para mim) a representação da densidade contundente do cast de auras vertiginosas, aquelas que alimentaram-se de espirais voluntariosas e, finalizando, em eruptiva plasticidade.
Kooning somaria-se à restituição de um paroxismo ante à calculada incontibilidade da cor, seu impactante instante "in presentia", nostálgica de seus amarelos; como a estabelecer o étimo espiritual de uma, chamemos assim, lírica da fúria destes.